Bem vindo 2020! Quais as perpectivas ao futuro…

E para iniciar nosso ano vamos publicar um série de textos elaborados pelo vice-presidente Hans J. Kleine. Estes textos falam sobre os principais entraves para a Cadeia Produtiva do Bambu e incentiva perspectivas futuras.

Vamos lá!

Há entre os grupos de bambuzeiros uma tendência natural de ressaltar apenas as vantagens do uso e do cultivo do bambu, praticamente excluindo as suas desvantagens e principalmente as críticas que alguns segmentos da sociedade fazem à planta que tanto amamos. Na visão da maioria dos bambuzeiros, o cultivo do bambu é sustentável e benéfico ao meio ambiente pelos serviços ambientais que ele presta, como contenção de encostas, combate à erosão, recuperação de áreas degradadas, além do fato de se tratar de uma planta permanente, que permite colheitas anuais sem exigir replantio e também sem necessitar o uso de agrotóxicos. O bambu também é um substituto da madeira em muitas aplicações, o que alivia a demanda sobre o corte de árvores. Esta é a imagem que geralmente fazemos e que divulgamos, sem levar em conta que são justamente os ambientalistas que emitem as críticas mais contundentes ao cultivo do bambu.

O nosso entusiasmo pelas mil e uma utilidades do bambu nos faz esquecer que há pessoas que o consideram uma praga a ser eliminada ou no mínimo a ser mantida sob controle. Penso que está na hora em dar mais atenção e respostas às pessoas que estão de fora de nossos grupos e convidá-las para um debate aberto e proveitoso para ambas as partes. Precisamos ouvir e tentar entender os motivos que levam, por exemplo, alguns biólogos e ecólogos a rotular os bambus como plantas invasoras e inimigas da biodiversidade. Apresento a seguir as críticas mais frequentes e o que penso de cada uma.

  •  O bambu é planta invasora. Sim e não, pois apenas as espécies alastrantes poderiam ser classificadas como plantas invasoras e elas representam apenas em torno de 30% das mais de 1.600 espécies existentes no mundo. Elas são originárias de climas temperados (frios) da Ásia e no Brasil são poucas as regiões com clima adequado ao seu desenvolvimento. Assim, a crítica é parcialmente procedente e exige cuidados especiais para conter os plantios de espécies alastrantes em áreas delimitadas por barreiras de contenção. Recentemente algumas cidades dos Estados Unidos aprovaram leis que restringem ou até proíbem o cultivo de bambus alastrantes. Espero que no Brasil tais leis sejam desnecessárias.
  • O bambu é difícil de erradicar. Sim e não. Como planta permanente, ele se renova constantemente através de brotações anuais. Quando plantado em local inadequado, a sua erradicação pode ser muito trabalhosa para quem tem pouca experiência com a planta.
  • A maioria dos plantios no Brasil é de espécies exóticas. Sim, a crítica procede. Entende-se por espécies exóticas aquelas que não são nativas e foram introduzidas no país. Temos 256 espécies nativas de bambu no Brasil, mas a maioria não pode ser usada em plantios comerciais, porque ainda não foi domesticada, isto é, se estas espécies forem plantadas em sítios ou fazendas fora da mata nativa, elas morrem. Então o seu uso fica limitado à extração a partir de matas nativas, em pequena escala, e se torna inviável em média e grande escala. Temos aí um dever de casa para os nossos agrônomos: a domesticação das espécies nativas de bambu.
  • O uso do bambu como substituto da madeira é questionável. Sim, apesar de seus ótimos índices de resistência mecânica, bem como do crescimento rápido e da elevada produtividade por hectare plantado, o bambu apresenta também desvantagens, tanto por motivos técnicos, quanto econômicos. As principais são: 1) o bambu contém mais amido do que a madeira, atraindo fungos e insetos, que degradam o tecido lenhoso; 2) o bambu contém mais sílica do que a madeira, causando maior desgaste de ferramentas de corte e produzindo maior quantidade de cinzas após a sua queima como biomassa; 3) o bambu racha com facilidade, o que impede o uso de pregos; 4) a densidade do tecido lenhoso do bambu é muito menos uniforme do que a da madeira, o que representa um menor rendimento, devido ao descarte das partes menos densas e resistentes; 5) o tecido lenhoso do bambu é mais difícil de tratar com produtos preservativos do que a madeira, pois eles atingem apenas os vasos que conduzem a seiva, sendo que estes representam somente 5% do volume do tecido. Existem ainda diversos outros aspectos ao comparar o bambu com a madeira, que podem ser favoráveis ou desfavoráveis ao bambu, conforme o caso.

Estas são as principais objeções que devemos conhecer, pois ignorá-las não é o melhor caminho. A lista poderá aumentar no futuro, à medida que a cadeia produtiva do bambu se tornar mais expressiva no Brasil. As críticas sempre devem ser bem recebidas, pois são oportunidades de conhecer outros pontos de vista. Mesmo nos casos em que a crítica é injusta ou exagerada, por exemplo, quando até espécies não alastrantes são rotuladas como invasoras, devemos agir com compreensão, lembrando que o bambu ainda é pouco conhecido por aqui.

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