Acordo Bilateral com a China na área do bambu dá um importante passo

Por iniciativa do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), a quem cabe coordenar as ações referentes ao Acordo Bilateral assinado em abril de 2011, foi organizada uma missão brasileira para conhecer em detalhes o que a China pode oferecer ao Brasil, em matéria de tecnologias associadas à cadeia produtiva do bambu. Participaram da missão onze pessoas, entre as quais havia pesquisadores e técnicos de três ministérios (MCTI, MAPA e MEC), além de quatro empresários e um dirigente de ONG (BambuSC). Entre os estados representados estavam Acre, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. A viagem durou 19 dias, entre os dias 27 de outubro e 14 de novembro, sendo que ainda outras duas pessoas do Ministério da Agricultura se juntaram ao grupo a partir do dia 05 de novembro.

 

 

Com uma programação bastante extensa, elaborada de comum acordo entre os dois governos, foram visitadas ao todo nove cidades e algumas áreas rurais. Os locais visitados incluíram centros de pesquisa, fábricas, plantações, museus e dois parques com mais de 400 espécies de bambu, além de um banco de germoplasma. Fazia parte da programação a participação da delegação brasileira nos eventos comemorativos do 15º aniversário de fundação do INBAR, órgão da ONU para pesquisa e desenvolvimento de bambu e rattan, que tem sede em Pequim e do qual participam 38 países. O Brasil, por sinal, deverá se filiar ao INBAR em 2013, conforme decisão já tomada pelo Governo Federal, faltando apenas a aprovação formal do Congresso. A diversidade de assuntos tratados e a grande massa de informações recebidas dificultam um relato mais pormenorizado sobre o que esta missão representou em termos de novos conhecimentos adquiridos e principalmente de novas oportunidades que se abriram para futuros intercâmbios entre os dois países. A missão permitiu o contato direto tanto entre especialistas de ambos os lados, quanto também a interação entre os próprios membros da missão, dos quais muitos ainda nem se conheciam pessoalmente antes da viagem.

Apesar de a China ter uma cultura milenar de uso do bambu, ela conseguiu um fantástico desenvolvimento tecnológico nesta área nos últimos trinta anos. Isto se deve a massivos investimentos em pesquisa tecnológica, abrangendo inclusive áreas como nanotecnologia, que permitiram o desenvolvimento contínuo de novos produtos industrializados nos diversos segmentos da cadeia produtiva. Recentemente foi desenvolvido um novo material, chamado de “strand woven bamboo”, na forma de blocos e vigas de alta densidade, obtidos por prensagem a quente, usando apenas bambu e uma resina. Este material tem propriedades de resistência equivalente a madeiras nobres e sua aparência em nada lembra os tradicionais produtos de bambu. Foram também criados pisos laminados, esquadrias e muitos outros materiais de construção, com durabilidade de até quinze anos. As fábricas foram modernizadas, adotando elevados padrões de qualidade e de eficiência. Isso permite hoje ao país gerar um ganho econômico equivalente a 15 bilhões de dólares anuais, apenas no mercado interno. A exportação intensificou-se nos últimos anos, gerando outros 1,5 bilhões de dólares em divisas, segundo estimativa do INBAR. O produto de maior valor agregado continua sendo ainda o broto do bambu, largamente empregado na culinária chinesa e de outros países asiáticos, que pode ser consumido in natura ou na forma de conservas, com valor nutritivo semelhante ao do palmito. É também curioso o fato de que a China dispõe de aproximadamente seiscentas espécies de bambu nativas, que representam quase a metade de todas as espécies existentes no mundo. Mesmo assim, mais de setenta por cento da cadeia produtiva dependem de uma única espécie, que é conhecida popularmente como mossô, ou pelo nome científico de Phyllostachys pubescens. Trata-se de uma espécie do tipo monopodial (alastrante), ambientada no clima subtropical do país. No Sul da China predomina o cultivo de espécies tropicais, com destaque para a Bambusa textilis, usada na fabricação de cestaria, tapetes, palitos para incenso, móveis e muitos outros produtos de artesanato e de decoração.

No Brasil, onde ainda temos tudo por desenvolver nessa área, poderemos queimar algumas etapas, aprendendo com a experiência da China e de outros tradicionais países produtores de bambu, cujos representantes a missão brasileira também teve oportunidade de conhecer nesta viagem, como a Índia e demais países do Sudeste Asiático, os nossos vizinhos Colômbia, Peru e Equador, além de Panamá, México, Cuba e diversos países da África. Muitos cartões de visitas foram trocados, abrindo novas possibilidades de contato e de aprendizado futuro. Mas, se ao Brasil ainda falta desenvolver quase tudo que se relaciona com bambu, incluindo a oferta de matéria-prima, de tecnologias adequadas e também de treinamento da mão-de-obra, não devemos jamais esquecer que temos um recurso importantíssimo, que falta a muitos países, incluindo a China: uma enorme reserva de terras agricultáveis à nossa disposição. Mesmo as terras degradadas pela mineração ou pela pecuária servem para o plantio de bambu, que tem o dom de recuperar tais áreas, em função da constante queda das folhas, que são incorporadas ao solo. Portanto, nada impede o Brasil de atingir no futuro o mesmo nível de produção de bambu que a China ou a Índia tem hoje. Poderemos até imaginar a possibilidade de exportar para estes países, porque não?

Por fim, vale destacar que a viagem também serviu para uma reunião entre os participantes da missão, realizada no final do roteiro, com o objetivo de consolidar os pontos principais observados e também de programar as próximas atividades a serem desenvolvidas no Brasil. O MCTI anunciou o seu projeto de implantação de centros regionais de tecnologia do bambu, dos quais o primeiro já foi aprovado para o Estado do Acre. Outros quatro centros serão implantados em 2013. Um outro projeto importante, do mesmo ministério, é o desenvolvimento de tecnologia específica de produção de mudas in vitro de diversas espécies de bambu, através dos bem equipados laboratórios do CETENE, situada em Recife e que deverá iniciar as pesquisas também no próximo ano. Foi consenso no grupo a necessidade de se acelerar a fundação da Associação Brasileira do Bambu, para congregar os interessados do setor e criar uma entidade representativa em nível nacional. Decidiu-se também acelerar a regulamentação da Lei Federal 12.484, de incentivo ao cultivo do bambu, aprovada há mais de um ano pelo Congresso. O Ministério da Agricultura, muito bem representado na missão, comprometeu-se com a inserção do bambu em diversos órgãos da sua área de atuação, como a Câmara Setorial de Florestas Plantadas, entre outras. A Embrapa também está decidida a estudar o bambu com mais atenção de agora em diante.

Por tudo isso, pode-se afirmar que a missão atingiu plenamente os seus objetivos, o que permite prever uma nova fase no desenvolvimento de nossa cadeia produtiva do bambu, com relevantes impactos na economia verde do Brasil.

Hans J. Kleine
Presidente da BambuSC

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