Por: PATRÍCIA AZEVEDO
O governo brasileiro se rendeu às inúmeras vantagens do uso do bambu como matéria-prima na construção civil e está investindo em pesquisas científicas para incentivar a produção nacional.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) destinou R$ 1,8 milhão para 12 projetos que estudam vários aspectos do bambu, desde a produção de mudas até a confecção de blocos laminados. Especialistas acreditam que a Rede Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Bambu (Redebambu) vai permitir o desenvolvimento de várias tecnologias de utilização do material nos setores da construção civil, moveleira e de outros artefatos. “O bambu é o negócio da China e o governo federal tem incentivado a sua plantação”, conta o pesquisador da Puc-Rio e presidente da Associação Brasileira de Ciências em Materiais e Tecnologias Não-Convencionais (ABMTENC), Khosrow Ghavami.
O professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, Antônio Beraldo, é um dos maiores especialitas brasileiros sobre o assunto e ressalta a importância da iniciativa. “Podemos esperar muitas novidades e investimentos nos próximos anos”, diz. O pesquisador Marco Antônio dos Reis Pereira, do Departamento de Engenharia Mecânica da Unesp de Bauru, acredita que esse investimento vai disseminar as vantagens da utilização do bambu no País. “Isso abre a perspectiva de um maior conhecimento e divulgação desta planta fantástica, incentivando a pesquisa e utilização”, diz.
Segundo o pesquisador da Unesp, a planta tem mais de 4 mil usos catalogados no países orientais. “De A a Z você pode fazer tudo com o bambu. Mas acredito que os usos mais nobres sejam com o bambu laminado colado e como elemento de construção”, conta.
O uso do material pode baratear a construção de casas, uma vez que substitui tijolos, aço e pode ser usado até mesmo na fundação e estrutura. “O bambu é muito fácil de ser cultivado e em cinco anos, ele já está maduro para ser usado na estrutura de uma casa. Além disso, as plantações de bambu não requerem muitos cuidados com adubos e agrotóxicos. Que outra planta cresce 1,2 metro em 24 horas?”, conta Beraldo. Além disso, o material é resistente a terremotos, dizem os cientistas.
De acordo com pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas, uma casa popular feita de bambu custa em média US$ 400 no Equador enquanto as de alvenaria não saem por menos de US$ 10 mil. Essa diferença de preço só é possível porque lá a tecnologia já é amplamente utilizada.
A matéria-prima tem ainda a vantagem de ter um baixo custo de produção e poder ser plantada em solos ácidos e empobrecidos. “O bambu tem o poder de recuperar solos degradados”, reforça Beraldo. O especialista conta que uma moita da planta pode se alastrar se não for devidamente contida.
Mas para muitos estudiosos, a melhor qualidade da planta é o seu potencial como agente despoluidor. “O bambu sequestra carbono. Para cada hectare de bambu plantado, quase duas toneladas de CO2 são absorvidas”, explica Ghavami. A produção e preparação do bambu para uso na construção também consome 50 vezes menos energia que a produção do aço, por exemplo. “Com essa necessidade de reduzir a emissão dos gases do efeito estufa, plantar bambu é uma solução fantástica”, afirma Ghavami.
País passa a ser líder em pesquisas
Com a criação da Rede do Bambu, o Brasil passou a ser líder em pesquisas sobre o material. Segundo o pesquisador da Puc do Rio de Janeiro e presidente da Associação Brasileira de Ciências em Materiais e Tecnologias Não Convencionais (ABMTENC), Khosrow Ghavami, “o Brasil tem várias pesquisas sobre o assunto e sedia eventos internacionais sobre bambu”, destaca o pesquisador.
De acordo com ele, o País tem conhecimento suficiente sobre o bambu, falta apenas incentivar a produção e comercializar o material de forma mais ampla. “Eu ajudo a orientar projetos de pesquisa de alunos da Rússia, Bélgica, Estados Unidas e China”, conta Ghavami.
Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os alunos da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) aprendem a criar uma série de utensílios com a matéria-prima. Telhas, janelas, cestos, placas de cimento, estruturas e até carvão são feitos com bambu. “Vamos levar para Moçambique algumas formas de utilizar o bambu para repassar a tecnologia. Lá eles usam muito o carvão para cozinhar e o uso do bambu pode poupar cortes de árvores”, explica o professor Antônio Beraldo.
Além dessas aplicações, o bambu pode ser usado na produção de papel e de etanol celulósico. Em países como a Colômbia e o Equador o material é usado para a construção de casas populares. Mas é na China e na Índia que a planta é utilizada em larga escala em vários setores. “Em Madri tem um aeroporto feito com bambu e na Índia até mesmo o assoalho dos trens é feito com a planta”, conta Beraldo. (PA/AAN)
Bauru pesquisa bambu laminado
Em todo o Brasil, cientistas estudam as aplicações e características do bambu. Um desses pesquisadores é o professor Marco Antônio dos Reis Pereira, do Departamento de Engenharia Mecânica da Unesp de Bauru. Atualmente ele trabalha com o plantio, manejo e desenvolvimento de espécies prioritárias da planta no campus de Bauru. “Verificamos o desenvolvimento anual das moitas de bambu e fazemos um trabalho de viveiro para produção de mudas destas importantes espécies”, conta. Além disso, o pesquisador desenvolveu o chamado bambu laminado colado, que pode ser usado como na indústria moveleira, construção e na arquitetura, como piso. Para isso, ele conta com a ajuda de um grupo de pesquisadores composto por alunos do curso de Design, Arquitetura e Engenharia Civil. “Em laboratório trabalhamos com a caracterização física e mecânica das diferentes espécies de bambu na sua forma laminada (bambu laminado e bambu laminado colado) e também trabalhamos com o material laminado colado para o desenvolvimento de produtos como mobiliário, chapas, pisos, cabos e elementos de construção, entre outros”, conta. O professor do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio, Khosrow Ghavami, pesquisa a substituição do aço pelo bambu na fabricação de estruturas de concreto. Segundo ele, o material tem resistência suficiente para ser utilizado na fabricação das estruturas. “Com esses estudos estamos provando cientificamente que o bambu pode ser utilizado na construção civil”, diz.
Sua equipe estuda 12 dos 1.200 tipos de bambu já catalogados. “Atualmente, estamos fazendo o mapeamento das suas micro-estruturas para estabelecer as propriedades físicas e mecânicas de cada tipo e verificar a adequação a cada forma de utilização”, explica. (PA/AAN)
Fonte: Gazeta de Piracicaba