No dia 27.01.2024 aconteceu a inauguração do Bambuzeto no Jardim Botânico de Florianópolis – JBF, com a reunião de pessoas importantes para o desenvolvimento da coleção de bambus no JBF. Estavam presentes:
Secretário do Meio Ambiente Eduardo Sarda, acessor Luciano Pereira
Vereador Renato Geske
Associação Amigos do JBF, Zenorio Piano, Adejario Botelho e Décio Rockenbach
Associação Nipo-catarinense, Seiji Korosue, Jussara Saito e Eleonora Otani
JBF/PMF Roberto Amaro
Jorge Munoz
BambuSC Hans, Marcos, Thiago e Sumara
Na ocasião plantamos 7 mudas, sendo 6 alastrantes e 1 entouceirante:
2 Phyllostachys nigra var. henonis
2 Pseudasasa japonica
2 Phyllostachys bambusoide – madake
1 Bambusa Multiplex
Agradecemos a participação de todos e contamos com seu apoio!!!
Em setembro de 2021, a BambuSC elaborou o curso Construção com bambu para obras de pequeno porte para o canal Youtube – Capacitações Epagri On-line, com a transmissão de 3 palestras:
Episódio 1 –Espécies utilizadas e recomendações de colheita
Data: 20.07.22 Horário: 14:00 – 15:30 h Local: reunião virtual
Assunto: Viabilizar a nova política estadual de incentivo ao bambu
Participantes:
Tiago Mioto – Gerente de Desenv. Florestal e Ambiental da Secretaria
Léo Kroth – Diretor de Cooperativismo e Agronegócios da Secretaria
Juliane Knapik – Coord. de Desenvolvimento da Epagri (Florianópolis)
Gilmar Michelon Dalla Maria – Agente de Extensão da Epagri (Curitibanos)
Élcio Pedrão – Técnico da Epagri (Curitibanos)
Márcio Navroski – Professor da Udesc (Lages)
Nilso Berlanda – Deputado estadual
Josiane Ribas Lanzarin – Assessora de comunicação do deputado
Thiago Ornellas – Presidente da BambuSC
Hans Kleine – Ex-presidente da BambuSC
Conteúdo:
Introdução ao tema da reunião por Tiago Mioto – 5 min
Apresentação individual de cada participante – 20 min
Apresentação sobre bambu por Thiago Ornellas – 25 min
Discussão sobre as prioridades no desenvolvimento da cadeia produtiva e o papel de cada entidade, mediada pelo Dep. Berlanda – 40 min
Decisões tomadas:
A Secretaria da Agricultura vai implantar políticas públicas de fomento à produção de mudas, ao plantio e à utilização do bambu em SC.
A Epagri criará a capacitará um corpo técnico para a difusão de tecnologias de produção e utilização do bambu, além de implantar projetos de pesquisa.
A Udesc estudará a viabilidade de implantar uma disciplina sobre bambu em sua grade curricular, além de implantar projetos de pesquisa.
O Gabinete do Deputado Berlanda vai propor uma emenda parlamentar específica em benefício da cadeia produtiva do bambu, bem como a destinação de sobras orçamentárias do Governo Estadual para reforçar o Programa de Florestas Plantadas, que inclui o bambu como espécie florestal.
A BambuSC vai elaborar propostas de projetos de produção de mudas e de plantio de bambu, para subsidiar a Secretaria da Agricultura.
Está circulando em Consulta Nacional o Projeto de Norma NBR 17043 (ABNT, 2022) – Varas de bambu para uso estrutural: colheita, tratamento imunizante e classificação pelo diâmetro.
O projeto de norma foi elaborado durante o ano de 2021, dentro da Comissão de Estudo de Bambu (CE-002:126.012) do Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-OO2), tendo como participantes bambuzeiros do ramo científico, produtores e comerciantes e demais ativos no interesse pelo desenvolvimento da cadeia produtiva do bambu no Brasil.
Agora esperamos apoio de cada bambuzeiro aprovando o texto através de seu voto. A finalização da Consulta Nacional é dia 22/06/2022.
Para realizar o voto deve seguir os seguintes passos:
O Secretário de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, Ricardo Miotto Ternus, concedeu uma audiência, no dia 11 de abril de 2022, a um grupo representativo do setor do bambu, para tratar das demandas prioritárias decorrentes da recente aprovação da Lei Estadual nº 18.341/22, que institui a Política Estadual de Incentivo ao Desenvolvimento da Produção de Bambu em SC. Estiveram presentes no evento o deputado estadual Nilso Berlanda, proponente da lei, o ex-deputado estadual Reno Caramori, o Diretor de Cooperativismo e Agronegócio Léo Kroth, os técnicos da EPAGRI Gilmar Dalla Maria e Élcio Pedrão, o Presidente da BambuSC Thiago Ornellas e os ex-presidentes Marcos Marques e Hans Kleine.
Alguns exemplares de material didáticos sobre bambus apresentados na reunião.
Marcos marques, Hans Kleine, Léo Kroth, Thiago Ornellas, Élcio Pedrão, Caco Michelon, Nilso Berlanda e Ricardo Miotto
Reno Caramori, Thiago Ornellas, Caco Michelon, Ricardo Miotto, Élcio Pedrão e Hans Kleine.
Dep. Nilso Berlanda e Sec. da Agricultura de SC Ricardo Miotto receberam consevras brotos de bambu gigante (Dendrocalamus asper) produzidos na safra de 2022 por Hans Kleine.
Élcio Pedrão, Hans Kleine, Marcos Marques, Caco Michelon e Thiago Ornellas
Os representantes da BambuSC e da EPAGRI tiveram oportunidade de apresentar ao Secretário diversas demandas consideradas prioritárias, como a criação de um programa de fomento à produção de mudas, para incentivar o surgimento de núcleos produtores de bambu em diversas regiões do estado, a formação de técnicos em cultivo e manejo de bambu, através de cursos regulares ministrados pela UDESC e a difusão de conhecimentos sobre a cadeia produtiva do bambu, fazendo uso do material didático já elaborado pela BambuSC. Também foi abordada a questão das áreas degradadas da mineração do carvão no Sul do Estado, que poderiam ser recuperadas através do cultivo do bambu, já que nenhuma outra cultura obteve sucesso até o momento para gerar renda aos muitos proprietários daquelas terras, que somam mais de cinco mil hectares.
Durante a reunião foram distribuídos alguns exemplares da cartilha da BambuSC sobre a cadeia produtiva e mostrados os dois livros publicados sobre cultivo e manejo e durabilidade do bambu. Ao final da reunião foi sugerido realizar um novo encontro, envolvendo a participação também de outros setores do Governo Estadual, no qual a BambuSC poderia apresentar noções mais aprofundadas sobre a cadeia produtiva do bambu.
O Secretário mostrou-se sensível aos temas abordados e comprometeu-se em mobilizar apoios às demandas formuladas, incluindo um novo encontro dentro de 30 dias. Ele também disse que vai realizar reuniões sobre as demandas apresentadas com a sua equipe da Secretaria, bem como com dirigentes da Epagri e da UDESC. Este foi mais um importante passo da nossa BambuSC para desenvolver a cadeia produtiva do bambu no Estado de SC.
Dia 05 de junho de 2021, comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, lembrando a data de início da Conferência de Estocolmo, ocorrida em 1972, quando a ONU passou a dar importância ao tema. Nestes 49 anos a raça humana tomou consciência sobre os danos que provocamos no meio ambiente. Mas, pode-se dizer que ainda estamos aprendendo como lidar com o assunto.
Conseguimos controlar o principal perigo, que era o constante aumento da população mundial. Também aprendemos a reduzir riscos mais imediatos, como a poluição da água, do solo e do ar, incluindo o buraco na camada de ozônio e avançamos bastante na educação ambiental. Porém, agora surgem novos riscos de médio e longo prazo causados por todos nós, como o lixo depositado em nossos mares, a mudança climática, a rápida redução da biodiversidade, o desmatamento e até o aumento da desertificação em diversos continentes. Então há muito a aprender e corrigir, se queremos garantir o futuro das novas gerações. A solução não está apenas nos governos, cada um de nós pode e deve dar a sua contribuição, por ações que acabem resultando na redução dos riscos apontados e de outros que ainda vamos descobrir.
Figura 1 – Recuperação de área degradada com bambu iniciada em 2003 no Sítio Vagalume (2019).
O cultivo do bambu é uma importante ferramenta para reduzir o desmatamento e a desertificação e pode também ajudar em atenuar a mudança climática. Além disso, ele reduz a erosão do solo e recupera áreas degradadas, por ser uma planta primária, capaz de se desenvolver em solos pouco férteis e por depositar grande quantidade de folhas, que aumentam o teor de matéria orgânica no solo, atraindo micro-organismos, fungos e minhocas. No caso do Brasil, o cultivo do bambu pode reduzir a nossa dependência do eucalipto e do pínus, que juntos somam 95% de todas as florestas plantadas. Com ele também podemos reduzir as áreas desertificadas da Região Nordeste, avançando os plantios a partir das beiradas das áreas semiáridas, já que o bambu é uma planta permanente, que se renova através de brotações anuais. O clima de nosso país é em geral favorável ao cultivo do bambu, que gosta de muito sol e de chuva e umidade.
Figura 2 – Touceiras de Bambusa oldhamii no Sítio Vagalume (2019).
Todos nós podemos ajudar a plantar mais bambu, mesmo não tendo propriedade de um sítio ou fazenda. E até podemos ganhar dinheiro com isso, por exemplo, produzindo mudas em vasos, fazendo divulgação através de cursos, vídeos, artigos ou livros. Também podemos ajudar através do comércio ou apenas consumo de produtos de bambu, porque aumentando o consumo, vamos incentivar novos plantios. Está aí uma oportunidade de contribuir com o meio ambiente, ao alcance de todos.
No dia 21/12/2020, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), representada pelo Comitê Brasileiro da Construção Civil (CB-002), tornou pública duas normas brasileiras que reúnem informações para o uso do colmo de bambu como material construtivo em estruturas. A primeira norma trata sobre projeto e dimensionamento de estruturas de bambu (NBR-16828-1), e a segunda sobre métodos de ensaio para determinação das propriedades físico-mecânicas dos bambus (NBR16828-2).
Impulsionada por representantes de universidades, institutos de pesquisa, produtores rurais, associações e demais interessados, a publicação das primeiras normas brasileiras específicas para o uso estrutural de colmos de bambu representa grande avanço para a consolidação da cadeia produtiva do bambu no país.
Recém nomeado como material construtivo aceito no país, o bambu é um recurso não madeireiro capaz de mitigar o fenômeno resultante das mudanças climáticas globais. Trata-se de um grupo de plantas perenes com alta capacidade de crescimento e ciclo anual de renovação, permitindo colheita anual de varas e brotos sem a necessidade de replantio.
Uma vez que a escolha dos materiais de construção possui peso expressivo sobre o impacto ambiental de um empreendimento, o uso de materiais mais ecológicos, tal como o bambu, deve ser considerado como requisito para a sustentabilidade na construção.
Ambas as normas encontram-se a venda no próprio site da ABNT:
Se você quiser saber um pouco mais sobre as normas, assista ao webinário “Normas técnicas para o aproveitamento estrutural do Bambu”, com o Professor Normando Perazzo e o Eng. Civil Vitor Marçal.
A BambuSC tem a satisfação de oferecer aos interessados a tradução de um artigo técnico sobre os bambus nativos do Brasil.
O artigo original foi elaborado por três pesquisadores brasileiros e um chinês e publicado em inglês por uma revista científica da China, em 2015. A publicação foi produto de um projeto do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, que tinha o objetivo de atualizar a lista das espécies nativas brasileiras e coletar amostras em um grande número de estados de todas as regiões do país.
Quinteto Arrepio do Bambu. Fernando Tombolato, Moisés Pinto, Marcos Marques, Thiago Greco e Hans Kleine. Sítio Vagalume. Rancho Queimado – SC (2012) – Imagem gentilmente cedida por Moisés Pinto.
Mapa de distribuição dos bambus, retirado do artigo original (Greco et al., 2015)
A iniciativa de disponibilizar este material em português foi do nosso querido Hans Kleine e a tradução foi uma cortesia da empresa Pedra Rosetta, especializada em traduções técnicas. Segundo o próprio Hans, a tradução do artigo e a disponibilização da informação à comunidade bambuzeira brasileira é também uma homenagem aos três autores brasileiros, que são antigos colaboradores da BambuSC. Trata-se dos conhecidos bambuzeiros Thiago Greco, Moisés Pinto e Fernando Tombolato (in memoriam).
O artigo traduzido representa a única listagem das espécies nativas do Brasil disponível em português. Mas vale lembrar que desde a publicação em 2015 até hoje, com os avanços científicos, novas espécies já foram descritas e outras tiveram sua classificação ou nome alterados.
Embora ele exista desde os tempos em que aqui só havia povos indígenas, o setor produtivo do bambu ainda é relativamente desconhecido no Brasil. Os nativos usavam a matéria-prima para fazer suas casas, cercas, armadilhas, cestos, balaios, arcos e flechas, flautas e outros objetos de adorno ou de uso caseiro. Havia muitas espécies disponíveis, com os mais variados tamanhos, que os índios classificavam como taquari (pequeno), taquara (médio) e taquaruçú (grande). Suas varas eram colhidas na mata virgem, sem necessidade de plantio, porque o bambu é uma gramínea e, portanto uma planta permanente, que tem novas brotações a cada ano. Assim os índios não chegaram a desenvolver o cultivo da planta. Os portugueses, que aqui chegaram em 1500, não conheciam o bambu, mas aprenderam a usá-lo também, aumentando o seu consumo. Eles conheceram também diversas outras espécies de bambu na Ásia, mas não sentiram necessidade de introduzir tais espécies aqui no Brasil.
Assim permaneceu durante três longos séculos, até que a Família Real Portuguesa veio se refugiar no Brasil, em 1808, fugindo da invasão de seu país por parte do exército francês, de Napoleão Bonaparte. Poucos anos depois, a partir de 1814, chegaram as primeiras espécies asiáticas em nosso país, mas curiosamente não por vontade dos portugueses. Acontece que a Família Real, ao chegar aqui, se apercebeu do atraso que reinava em sua colônia. Não havia escolas, indústrias, nem mesmo jornais ou editoras de livros. Tudo era proibido e o país apenas produzia madeiras, cana-de-açúcar, gado e minerais preciosos, que eram enviados a Portugal. Era preciso mudar isso rapidamente, já que a Família Real não sabia por quanto tempo deveria permanecer aqui. A primeira medida foi a abertura dos portos, permitindo o comércio com outros países. Em seguida foi autorizada a primeira imigração de estrangeiros, que casualmente eram 300 famílias de chineses, que receberam a missão de implantar o cultivo do chá na cidade do Rio de Janeiro. Junto com os imigrantes vieram muitas plantas típicas de sua terra e também as primeiras mudas de bambu de origem asiática. Elas se adaptaram muito bem e logo os portugueses também começaram a plantar estas espécies asiáticas, de modo que em poucas décadas elas já estavam difundidas no país inteiro, ao contrário do chá, que não prosperou em nosso clima.
Poucas pessoas sabem que existem mais de mil e quinhentas espécies diferentes de bambu no mundo, sendo mais de duzentas nativas do Brasil. Porém, a grande diferença entre as espécies nativas e as asiáticas está no fato de que a maioria das nativas ainda não está domesticada, isto é, essas espécies só crescem em matas nativas e não podem ser plantadas fora desse ambiente natural. Por isso a chegada das espécies asiáticas foi um sucesso tão grande, porque elas podem ser plantadas nos sítios e nas fazendas, sendo pouco exigentes quanto ao tipo de solo.
Logo o bambu fazia parte do cenário, servindo para variadas aplicações na agricultura e no dia-a-dia da população rural. No meio urbano era mais raro encontrar produtos feitos de bambu e também ainda não havia indústrias que pudessem aproveitar a matéria-prima. A partir de 1850 surgiram as primeiras fábricas de celulose e papel no Brasil, que usaram justamente o bambu como matéria-prima, em pequenas unidades nos estados de SP, RJ e RS, por falta de florestas homogêneas como as de pinheiros que alimentavam as fábricas de papel no Hemisfério Norte. Mas, como os plantios eram bastante dispersos, eles foram incapazes de suprir a crescente demanda de papel, que era atendida principalmente pela importação de celulose.
Em 1908 começou a imigração japonesa no Brasil, que resultou na introdução de outras espécies asiáticas de bambu, típicas de clima frio e de hábito alastrante, como as do gênero Phyllostachys. As principais são conhecidas pelo seu nome comum no Japão, como mossô, madake e hachiku, além da cana-da-índia, muito usada para móveis e caniços. Na mesma época o eucalipto foi introduzido em nosso país, usado para dormentes das estradas de ferro e para postes de energia elétrica e de telegrafia. Ele também começou a ser usado na fabricação de papel, o que reduziu drasticamente o uso do bambu. Nos anos 60 o governo do estado de São Paulo decidiu estudar diversas novas espécies de bambu para a produção de papel, criando uma coleção de mais de 50 espécies tropicais no IAC – Instituto Agronômico da Campinas. Essa coleção permitiu as primeiras pesquisas científicas sobre bambu no Brasil. Porém, pouco desse conhecimento foi aproveitado pelas fábricas de celulose e papel situadas nas Regiões Sudeste e Sul. Porém, na Região Nordeste havia duas fábricas de papel do Grupo João Santos, localizadas em Pernambuco e no Maranhão, que usavam as fibras de palmeiras como matéria-prima para a fabricação de sacos de cimento. Como a qualidade do papel deixava a desejar, o grupo decidiu fazer um teste com bambu, com a ajuda de técnicos do IAC. A substituição das palmeiras pelo bambu melhorou muito a qualidade do papel e resultou no plantio de áreas em larga escala, a partir dos anos 80, chegando a um total de 50 mil hectares em três décadas. A fábrica do Maranhão, no entanto, foi desativada em 2006 e a de Pernambuco agora usa papel reciclado no lugar do bambu, por motivos econômicos e não de qualidade. Os grandes plantios existentes na Região Nordeste hoje são usados por várias indústrias como biomassa na geração de energia.
Um novo interesse no uso do bambu surgiu no mundo todo na virada para o Século XXI, em função dos enormes avanços obtidos pela China na industrialização de sua cadeia produtiva do bambu, que resultaram em grandes exportações de produtos a partir dos anos 80. Os principais produtos eram pisos laminados, esquadrias, móveis, utensílios domésticos, objetos de decoração, carvão ativado e conservas de brotos de bambu. O governo chinês também passou a oferecer bolsas de estudo para estrangeiros, geralmente de curta duração, sobre os mais variados temas da cadeia produtiva do bambu, o que aumentou muito o interesse principalmente nos países em desenvolvimento, da Ásia, da África e da América Latina. Muitos brasileiros se beneficiaram dessas bolsas e acabaram se tornando divulgadores dos múltiplos usos do bambu, na esperança de implantar uma diversificada cadeia produtiva no Brasil. Também nessa época a Internet se estabeleceu como meio de comunicação versátil, facilitando a divulgação de novas tecnologias e permitindo a formação de grupos de discussão sobre qualquer assunto. Um dos primeiros e mais influentes grupos de discussão do bambu no Brasil foi criado no ano 2000, ancorado no site www.bambubrasileiro.com e que chegou a reunir mais de 1.500 simpatizantes. O uso generalizado de computadores permitiu a criação de muitos outros grupos, agregando novos interessados na troca de informações via e-mail.
Em seguida apareceram as primeiras entidades representativas destas comunidades virtuais com foco no bambu. A pioneira, em 2004, foi a Bambuzal Bahia e um ano depois foi fundada a Associação Catarinense do Bambu – BambuSC. Seus membros estudam e divulgam tecnologias do bambu, ampliando o universo de pessoas capacitadas a desenvolver diversos papéis dentro da cadeia produtiva. Iniciativas semelhantes, porém informais, surgiram também em outros estados, como em RS, PR, SP e GO. Ainda em 2005 surgiu a primeira entidade representativa em nível nacional, a Rede Brasileira do Bambu (RBB), com o objetivo principal de congregar esforços de pesquisa básica e aplicada à cadeia produtiva do bambu no Brasil. Ela conseguiu patrocinar três Seminários Nacionais do Bambu, que foram realizados em Brasília (2006), Rio Branco (2010) e Goiânia (2015). Além disso, a RBB motivou o Governo Federal (CNPq) a emitir editais de pesquisa sobre bambu em 2008 e 2013, que envolveram um grande número de universidades em todas as regiões do país. Outro feito importante foi obter junto à ABNT a elaboração de uma norma técnica referente à construção de estruturas de bambu, que já passou por consulta pública e deverá ser publicada em breve. Apesar destes bons resultados, obtidos através de atividades pontuais, a entidade não tem registro formal, nem mantém atividades rotineiras.
A aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei Federal 12.484, que instituiu a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu e a assinatura do Acordo Bilateral Brasil-China sobre tecnologias do bambu, articulado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC), foram dois marcos importantes ocorridos em 2011. O acordo com a China permitiu o intercâmbio entre técnicos dos dois países, através de missões oficiais e a realização de cursos de treinamento ao longo de cinco anos. O mesmo ministério induziu alguns empresários do setor bambuzeiro a criar uma entidade representativa no nível federal. Assim surgiu, em 2013, a Associação Brasileira dos Produtores de Bambu – Aprobambu. Ela promoveu diversos eventos públicos de divulgação da cultura do bambu e conseguiu articular o envolvimento da classe política em diversos estados e municípios, bem como alguns ministérios e até algumas entidades estrangeiras. Ela também assegurou a sua participação em três Câmaras Setoriais do Ministério da Agricultura, que são as de Fibras Naturais, de Florestas Plantadas e de Hortaliças. Embora ela tenha registro oficial, a entidade também não deslanchou e hoje o número de associados se restringe à diretoria. Outras conquistas importantes para o setor ocorreram entre 2016 e 2018, com a implantação de dois centros tecnológicos de bambu, um em Rio Branco/AC e outro em Itapeva/SP, ambos financiados pelo MCTIC, depois a filiação do Brasil na INBAR – Rede Internacional de Bambu e Ratã (2017) e também a fundação da Associação Brasileira do Bambu – BambuBR (2018). Esta nova entidade tem registro formal e representa variados segmentos da cadeia produtiva, como artesãos, profissionais liberais, industriais, fornecedores de equipamentos e insumos, além de pesquisadores e produtores rurais.
As diversas entidades já citadas foram eficazes em despertar o interesse do público. Isso pode ser medido, por exemplo, por um grupo de mais de nove mil simpatizantes do país inteiro, que participam da Rede Social do Bambu, em sua página no Facebook, na qual eles trocam informações e anunciam novos produtos, cursos e eventos. Outro indicador deste sucesso são as publicações de artigos técnicos, livros e teses de mestrado ou doutorado que apareceram com frequência crescente ao longo de duas décadas. Em paralelo a esses esforços na formação de recursos humanos, também está sendo ampliada a área plantada, em vários estados, principalmente das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Com isso aumenta a oferta de matéria-prima e de produtos e serviços ligados à cadeia produtiva, embora ainda não existam estatísticas sobre as quantidades comercializadas ou a variação dos preços praticados pelo mercado, nem o total de empregos gerados.
Para desenvolver o setor produtivo do bambu, muito ainda resta por fazer, lembrando, porém que o Brasil conta com condições privilegiadas do clima e também com a maior disponibilidade de terras agricultáveis do planeta. Além disso, temos um amplo mercado interno e muitas possibilidades de exportar no futuro, uma vez que o bambu está sendo percebido no mundo todo como um componente importante da bioeconomia, por seu rápido crescimento e pelos impactos ambientais positivos. Isso vale tanto para produtos artesanais e de elevado valor agregado, como por exemplo, conservas de brotos comestíveis, instrumentos musicais, bicicletas e materiais de decoração, quanto para os de larga escala e baixo valor agregado, como biomassa para energia, fabricação de celulose e papel e produtos industrializados, na forma de palitos, estacas, laminados, chapas e vigas. O segmento mais promissor em curto prazo é o da biomassa para energia, que está recebendo vultosos investimentos em plantios de larga escala, sobretudo na Região Centro-Oeste. Existe também o enorme desafio de explorar a maior floresta natural de bambu do mundo, situada na divisa entre a Bolívia, o Peru e o Estado do Acre, estimada em nove milhões de hectares, sendo a metade em território brasileiro. Ela ainda permanece praticamente intocada, por falta de estradas que possam ser usadas em qualquer época do ano, numa região de muitas chuvas. Existe também uma grande expectativa de uso do bambu na construção civil e também em projetos de habitação social, a partir da publicação da norma da ABNT já mencionada. E para concluir, foi criada neste ano de 2020 a Frente Parlamentar do Bambu, com adesão de mais de duzentos deputados e senadores. Ela está articulando junto ao Ministério da Agricultura a regulamentação da Lei Federal 12.484, acima citada. Com isso haverá um novo estímulo, não apenas para os produtores rurais, que poderão contar com financiamento e assistência técnica para os seus plantios, mas também para os demais segmentos da cadeia produtiva. Tudo indica que estamos no rumo certo para sermos, quem sabe já em duas ou três décadas, um grande produtor mundial de bambu.