Aqui você encontra respostas para as dúvidas mais freqüentes que recebemos pelo site da BambuSC, agrupadas nos seguintes assuntos:

Potencial do Bambu
Raio X do Bambu
Fibras do Bambu

Potencial do Bambu

Qual o potencial de crescimento do bambu para o Brasil e para o mundo?
O bambu se desenvolve em climas tropicais e subtropicais, isto é, entre as latitudes de 45° acima e abaixo da Linha do Equador. Dos seis maiores países em extensão no mundo, que são Canadá, Estados Unidos, Rússia, China, Índia e Brasil, apenas os três últimos tem clima adequado para o cultivo de bambu. A China e a Índia e os demais países do sudeste asiático têm grandes áreas com florestas de bambu e muita experiência nos seus múltiplos usos, como material de construção, móveis, alimentos, papel, carvão, artesanato e utensílios domésticos, ente outros. A produção nestes países é muito grande, mas o consumo também, sobrando pouco para a exportação.

No Brasil existem também grandes reservas de bambus nativos, principalmente no Acre, mas a produção é muito baixa, por se tratar de espécies ainda não usuais no mercado. O uso industrial de bambu no Brasil fica restrito à fabricação de móveis, em diversos estados, e papéis de embalagem, de uma única empresa, que possui plantios próprios de bambu. Portanto, o Brasil ainda tem um enorme potencial a ser desenvolvido. É só plantar as espécies adequadas, porque ainda temos muita terra disponível em um mercado pronto para absorver a produção.

O que é necessário para a celulose de bambu se tornar competitiva? Quanto tempo isso demora? Há projeções de custos?
A celulose de bambu é competitiva com outras matérias-primas fibrosas em qualquer região do globo que tenha clima adequado ao seu cultivo. O custo de qualquer celulose varia muito em função do tamanho da fábrica (custo fixo) e do preço da matéria-prima fibrosa, que representa 50%, ou mais, do custo total. Os demais custos, como energia, produtos químicos e mão-de-obra geralmente influem menos. O preço da matéria-prima fibrosa depende essencialmente da produtividade florestal por hectare/ano e neste quesito o bambu é tão produtivo quanto o eucalipto, mas leva vantagem sobre as árvores de crescimento lento, como o pinus.

O potencial de crescimento do bambu é alto. Existe algum tipo de preconceito que impede seu uso no Brasil? A que se deve o pouco uso do bambu no setor de papel e celulose no Brasil?
Esta pergunta deveria ser respondida pela Bracelpa, entidade que representa os fabricantes de celulose e papel. Posso apenas especular sobre as razões que até o momento travam o uso do bambu nas fábricas do nosso setor. É bem provável, que muitos pensem que o Brasil não necessita desenvolver outro tipo de fibra, além do eucalipto (fibra curta) e do pinus (fibra longa). O enorme sucesso da produção e exportação da fibra branqueada de eucalipto, com tecnologia desenvolvida no Brasil dá uma sensação de que fizemos bem mais do que a nossa obrigação. Já a situação do pinus é até bem precária, exigindo importação de meio milhão de toneladas por ano deste tipo de celulose, o que abre um enorme potencial ao uso do bambu, inicialmente para substituir estas importações e depois para se tornar, quem sabe, a nova estrela do mercado nacional e internacional de fibra longa.

Não penso que exista algum tipo de preconceito contra o bambu, mas certamente há muito desconhecimento de suas características técnicas e de suas vantagens econômicas, mesmo entre os engenheiros florestais. Este assunto ainda não é ensinado em nossas faculdades, com raras exceções.

Um outro aspecto a ser considerado é que, embora o bambu seja uma das matérias-primas mais antigas na fabricação de papel, o seu uso até agora ficou restrito praticamente apenas à Ásia, onde um grande número de pequenas fábricas produz a celulose destinada aos mercados locais. Os grandes produtores do Ocidente, isto é Canadá, Estados Unidos e os países da Europa, pouco se interessam pela fibra de bambu, porque eles não têm clima adequado ao seu cultivo e também porque a Ásia não produz o suficiente para exportar, portanto não representando ameaça e nem oportunidade aos ocidentais. Ainda hoje a celulose de bambu não é um produto comercializado internacionalmente e, portanto, não tem status de “commodity”, de qualidade conhecida e comprovada, embora seja realmente produzida e consumida em grandes quantidades e com excelente qualidade nos mercados locais.

Qual região do Brasil aproveita melhor os muitos usos que o bambu oferece?
Todas as regiões do país têm condições de produzir bambu e até mesmo as geadas não impedem o plantio de certas espécies adaptadas ao frio. No entanto, até agora nenhuma região do Brasil desenvolveu um mercado ativo de produtos básicos do bambu (mudas, brotos, varas, carvão, laminados, etc.), que possam servir de matéria-prima para alimentação, móveis, artesanato, construção e outros usos. E sem um comércio rotineiro destas matérias-primas o uso é apenas esporádico, ou artesanal, ou cativo (quem produz também consome, como as fábricas de papel).

Quais as vantagens do bambu sobre o Pinus e o Eucalipto?
As principais vantagens econômicas do bambu, quando usado na fabricação de celulose, são:

  • Dispensa replantio, por mais de 100 anos. Novos brotos surgem espontaneamente a cada ano. O pinus é replantado depois de cada corte, que é feito aos 15 a 20 anos. O eucalipto rebrota após o corte, que é feito aos 7 anos, mas deve ser replantado depois de 4 ciclos, isto é, no 28º ano. O custo do replantio varia entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00 por hectare.
  • A colheita pode ser feita de 2 em 2 anos, contra 7 do eucalipto e 15, ou mais, do pinus.
  • A produtividade do bambu (em ton/ha.ano) é semelhante à do eucalipto e quase o dobro da produtividade do pinus.

Quais as desvantagens do bambu sobre o Pinus e o Eucalipto?
O bambu contém sílica e amido, que não se encontram nem no pinus, nem no eucalipto. Ambos precisam ser removidos do processo de fabricação de celulose, o que é feito sem dificuldade com tecnologia simples e plenamente desenvolvida.

Raio X do Bambu

Em um panorama geral, no Brasil e no mundo, onde estão as maiores plantações de bambu
As florestas de bambu podem ser naturais, ou plantadas. Os países do sudeste asiático (China, Índia, Tailândia, Filipinas, Indonésia, Vietnam, Japão, Ceilão, etc.) representam a maior região produtora de bambu do mundo e tradicionalmente usavam apenas florestas naturais de bambu, até a metade do século passado. Depois passaram a plantar e a industrializar o seu uso, ampliando a escala de produção. Na América Latina há também grandes reservas naturais de bambu, especialmente uma de 180 mil quilômetros quadrados do gênero Guadua, que abrange parte do Estado do Acre, parte da Bolívia, e parte do Peru, além de outras florestas naturais no Equador, na Colômbia, no Paraguai e nos países do Caribe. A fase de industrialização nesta região iniciou apenas nos últimos 20 anos, com destaque para a Colômbia e o Equador. O maior plantio individual de uma única empresa em todo mundo parece ser o plantio de 50 mil hectares da espécie Bambusa vulgaris, realizado pelo Grupo João Santos no Brasil (MA e PE).

Quantas são as espécies e gêneros no Brasil e no mundo?
No total são conhecidas aproximadamente 1.300 espécies de bambus no mundo, distribuídas em 90 gêneros. Deste total os bambus lenhosos representam um pouco mais de 90% e o resto são bambus herbáceos. Apenas em torno de 50 espécies tem uso comercial desenvolvido. No Brasil temos em torno de 240 espécies e 34 gêneros de bambus nativos.

Existe um clima ou solo mais favorável para o crescimento do bambu? Quais as características deste solo/cima?
Os diferentes gêneros de bambu dividem-se em dois grandes grupos: os entouceirantes, que formam grupos de colmos quase impenetráveis e de formato arredondado, com espaços livres entre as touceiras e os alastrantes, que formam florestas homogêneas, com colmos mais distanciados entre si, que permitem o acesso a cada colmo individual.

Todos os bambus se desenvolvem melhor em regiões de muitas chuvas, distribuídas ao longo de todos os meses do ano. Isto não impede que eles resistam também em regiões menos chuvosas, ou onde as chuvas se concentram apenas em certas épocas do ano, mas haverá uma redução da produtividade. Quanto à temperatura, os alastrantes se desenvolvem em climas subtropicais mais frios, resistindo mesmo a geadas e os entouceirantes preferem climas tropicais mais quentes e geralmente são pouco tolerantes a geadas.

Os bambus são pouco exigentes em relação ao tipo de solo, mas certamente produzem mais em solo fértil e respondem bem ao uso de adubos. Em geral preferem solos bem drenados e não toleram banhados ou solos muito argilosos.

Quantos anos o bambu demora para crescer?
Os novos brotos emergem do solo na primavera, ou no início do verão, e tem um crescimento muito rápido. Os colmos atingem a sua altura final em 4 a 6 meses, quando se formam os galhos e as folhas. Cessada a fase de crescimento, os colmos passam por um período de amadurecimento, em que aumenta a sua resistência mecânica, até completarem três anos. Colmos entre 3 e 6 anos de idade são considerados maduros e podem ser usados em construção civil, móveis, laminados, pisos e outras aplicações que exigem a máxima resistência física dos mesmos. A partir do sexto ano começa a diminuir a resistência dos colmos, por isso não se recomenda usar colmos muito velhos.

Se os colmos se destinam à fabricação de celulose, os mesmos podem ser colhidos de dois em dois anos. No caso de brotos de bambu comestíveis, a colheita é anual.

Qual a produção atualizada de papel de bambu (mundial e do Brasil)?
As estatísticas mundiais referentes à produção de papéis de bambu são em geral incompletas e pouco confiáveis. É seguro dizer, que a Índia e a China produzem anualmente mais de 5 milhões de toneladas cada um. No Brasil a produção não deve ultrapassar 150 mil toneladas ao ano. Desconheço a produção mundial total e o prazo curto não me permite obter esta informação

A Fibra do Bambu

Quais são as características da fibra de bambu comparadas com o Pinus e o Eucalipto?
Os gêneros de bambu mais usadas na fabricação de celulose, nos países de maior extensão territorial, são: China – Phyllostachys (alastrantes), Índia – Dendrocalamus (entouceirantes) e Brasil – Bambusa (entouceirantes). Não existem diferenças significativas nas dimensões das fibras de bambu de espécies, ou gêneros, diferentes. De um modo geral as fibras de bambu são classificadas como fibras longas, embora tenham comprimento médio situado entre 2 e 3 mm, contra 4 a 6 mm das fibras de pinus e apenas 0,7 a 1,2 mm das fibras de eucalipto

Qual é a resistência do bambu?
As fibras de bambu têm resistência elevada, podendo substituir as fibras de pinus até mesmo em papéis Kraft, usados em sacos de cimento, por exemplo.

Quais são as suas aplicações – em que tipo de papel pode ser usado?
As fibras de bambu podem ser usadas em todas as aplicações típicas de fibras longas como sacos multifoliados, caixas de papelão ondulado, cartões duplex, além de uma variedade de outros tipos de papéis de embalagem. Já em misturas com fibras curtas de diversas proporções temos a possibilidade de fabricar qualquer tipo de papel.

Texto preparado por Hans-Jürgen Kleine

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