Bambu para toda obra

Não faz muito tempo que o bambu foi redescoberto como recurso de baixo custo, renovável e não poluente, mas o professor Khosrow Ghavami, do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio, estuda essa planta há mais de trinta anos. Já tem projetos realizados no Brasil e outros que ainda estão no papel, voltados para a nanoarquitetura. Mas seu projeto mais insólito é a aplicação do bambu em carrocerias de carro

Bambu para toda obra

Muito se pode fazer com essa planta de hastes elegantes e longilíneas, da família das gramíneas. O bambu cresce com facilidade, é resistente, flexível e abundante no Brasil e tem “1.200” utilidades. Pode ser transformado em papel, fibras e utilizado como matéria-prima na construção civil, por exemplo. Os povos orientais já sabiam disso e fizeram vasto uso desse material, até em sólidas construções milenares.

No atual contexto mundial, em que o desenvolvimento sustentável não é mais uma opção, e, sim, uma necessidade, o bambu foi redescoberto como recurso de baixo custo, renovável e não poluente. É o que o professor Khosrow Ghavami, do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), chama de material não convencional e sustentável. Estudioso do assunto há mais de trinta anos, Ghavami desenvolve uma importante pesquisa sobre as características físicas e mecânicas do bambu.

Nascido no Irã, o pesquisador percorreu universidades em Moscou e em Londres, antes de chegar ao Brasil. Foi somente em terras tropicais, no final da década de 1970, em que ele se deslumbrou com essa planta exuberante, que crescia facilmente em qualquer trecho de terreno. E foi também no Brasil que Ghavami se assustou com o uso indiscriminado de cimento-amianto, material já condenado e proibido em construções fora do país naquela época, por seus componentes cancerígenos. “Fiquei encantado com o bambu, uma opção saudável e não poluente. Achei que estava na hora de desenvolver uma pesquisa adequada ao clima e à realidade brasileira”, lembra o professor, também à frente da Associação Brasileira em Materiais e Tecnologias Não Convencionais (ABMTENC).

Utilizando os mesmos testes de laboratório realizados para o estudo do aço, Ghavami e seus alunos estudaram 14 diferentes espécies da planta e formalizaram uma pesquisa sobre o material. “O bambu é extremamente resistente e já tem forma cilíndrica pronta para a construção. As espécies ideais são aquelas com diâmetros em torno de 10 cm”, explica.

Além de características físicas e mecânicas, o pesquisador reuniu também dados sobre custo e performance do material. Com isso, validou sua adequação para diferentes aplicações, como reforço de lajes e colunas de concreto e como substituto de estruturas de aço.

Ghavami tem projetos já realizados no Brasil, como uma ponte e um centro comunitário, com estruturas inteiramente feitas de bambu, construídos em parceria com arquitetos e engenheiros belgas, na cidade de Ubatuba, em São Paulo. E também estudos futurísticos, que ainda não saíram do papel – mas, nem por isso, menos interessantes -, que envolvem a aplicação high-tech do material em projetos de nanoarquitetura. É o caso da vila de casas idealizadas pelo arquiteto Marko Brajovic, em seu projeto de tese de doutorado, que teve Ghavami como coorientador.

Mas talvez o projeto mais insólito do pesquisador e seus alunos seja a utilização do material em carrocerias de carro. Com motor elétrico e velocidade máxima – por enquanto – de 40 Km/h, o simpático carrinho já pode ser visto circulando no campus da PUC-Rio. “Esse projeto nasceu de uma pesquisa conjunta entre os departamentos de Engenharia Mecânica e Civil. Estou interessado em qualquer tipo de aplicação do material”, diz.

Graciosa também é a bicicleta de bambu, outra parceria do pesquisador com o grupo de alunos do designer José Luiz Mendes Ripper, na mesma universidade. E antes de ir embora, Ghavami me presenteia com um sabonete à base da matéria-prima. “São 1.200 utilidades”, reforça. Sim, professor!

Fonte: Planeta Sustentável
Por Gabriela Varanda – Edição: Mônica Nunes